QUEM COMPILA É UNITARISTA

Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA (ainda) permite em Angola, contabilizou mais de 130 mortes desde 2017 na sequência de protestos ou confrontos com a polícia, acusando o executivo angolano de “repressão excessiva”.

Adalberto da Costa Júnior falava na abertura da 6.ª reunião ordinária do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA, hoje em Luanda, e anunciou que o partido está a compilar um dossier sobre estes incidentes que pretende dar a conhecer a instâncias nacionais e internacionais.

Quem compila talvez alcance. Só falta saber quando a compilação estará pronta, se o MPLA permitirá tal coisa e, ainda, se as instância internacionais (as nacionais são pouco mais do que uma treta) darão credibilidade à compilação do “Galo Negro”.

Numa “conjuntura económica do país bastante delicada e grave”, dez meses após as eleições, o governo angolano “dá sinais de distanciamento” das necessidades da população e “incapacidade de governação”, dando apenas mensagens de limitação das liberdades e alguma “repressão excessiva”, acusou o presidente do partido do “Galo Negro”. Nada de novo, portanto.

A “política atingiu um nível muito baixo”, continuou Adalberto da Costa Júnior, lamentando que os angolanos percam a vida em consequência destes actos, num contexto de paz em que nada o justifica e em que os órgãos de justiça demitiram-se das suas responsabilidades. Nada de novo, portanto.

Num discurso muito crítico, Adalberto da Costa Júnior fez um exercício estatístico da perda de vidas que ocorreram desde 2017, ano em que o Presidente do MPLA, general João Lourenço, chegou ao poder, e 2023, e convidou a uma “reflexão “sobre os comportamentos actuais.

O Presidente da UNITA, apesar de saber que reflectir é uma palavra desconhecida nas hostes do MPLA, teima em aconselhar os angolanos e falar calados, todos juntos um de cada vez, à luz de um candeeiro apagado. E assim não há compilação que valha a pena.

Entre os incidentes, citou, a morte de 21 cidadãos durante a “Operação Transparência” direccionada às províncias diamantíferas da Lunda Norte e Lunda Sul, em 2108; de pelo, menos 14 cidadãos, em 2019, na “Operação Resgate”, incluindo uma vendedora ambulante e um adolescente de 14 anos; de 19 pessoas em 2019, numa manifestações e no âmbito de protestos contra as medidas de combate à Covid-19; o “massacre” de 55 cidadãos na vila diamantífera de Cafunfo, em 2021; de três operários angolanos de uma barragem e três motoqueiros na campanha eleitoral, em 2022; de cerca de 20 membros de uma seita religiosa e de um agente da polícia que morreram em confrontos e, mais recentemente, oito pessoas que protestavam contra o aumento de gasolina e que foram mortas no Huambo. Estes números divergem dos que têm sido apresentados oficialmente pelas autoridades do MPLA que, pelos vistos, também compilaram dados para fazer o contraditório junto da entidades internacionais, já que desconhecem a existência de entidades nacionais que não sejam as suas.

Adalberto da Costa Júnior disse que o governo utiliza a Polícia Nacional (do MPLA) “de forma desproporcional” contra os cidadãos, permitindo que se dispare à queima-roupa “na maior das impunidades” e criticou a imprensa pública “totalmente submissa que manipula a realidade do país” (correspondendo às ordens superiores do dono do cofre) e os ataques dos serviços de inteligência contra líderes de partidos políticos.

“Até quando vamos continuar a assistir a estes tristes espectáculos, quando o próprio Presidente da Republica diz ser normal perseguir os adversários políticos?”, questionou. Em vão, é claro! Por alguma razão o Presidente do MPLA tem na sua posse a declaração de compra (com assinatura reconhecida notarialmente e testemunhada) de Angola a Portugal. Sendo ele o dono do país, tem o direito de dizer “O MPLA é Angola, Angola é do MPLA”.

O líder da UNITA sublinhou que quando o cidadão se manifesta cumpre “um direito constitucional” (errado, os angolanos de segunda, onde se enquadram os afectos à UNITA, não têm direitos) e disse que a falta de diálogo (para João Lourenço, dialogar significa o MPLA falar com o… MPLA) com que se lida com as questões sociais e políticas “resulta na desgraça e no caos com grande número das famílias angolanas a pagar com o preço da vida dos seus entes a incompetência do governo”.

“São muitas mortes que não podem continuar a ocorrer”, vincou, apontando ainda vários casos de execuções extrajudiciais praticadas este ano em Luanda. É claro que se os angolanos se manifestassem como fazem os deputados (e outros dirigentes) da UNITA não morriam…

“Este é o quadro das trágicas arbitrariedades”, em que às “matanças indiscriminadas” se juntam perseguições políticas e desalojamento de populações. Tudo isto é verdade. Tudo isto sabem os angolanos, sabem as tais entidades nacionais e internacionais.

Adalberto da Costa Júnior abordou ainda a eliminação da subvenção aos combustíveis, que considerou “uma medida necessária”, que pecou na escolha do timing e métodos para a sua implementação, questionando o aumento de 87% do preço da gasolina, uma decisão de um “governo insensível” com consequências directas e indirectas na economia angolana.

O presidente da UNITA aproveitou também para falar da exoneração do governador do Banco Nacional de Angola na quinta-feira “por conveniência de serviço”, o que constituiu uma violação da lei. Como é que se pode falar de violação da lei num país em que a lei é o MPLA e o MPLA é a lei?

Seguiu-se um novo comunicado algumas horas depois, dizendo que a saída de José Lima Massano foi a pedido do próprio, sendo este o novo ministro de Estado da Coordenação Económica.

Adalberto da Costa Júnior afirmou que a Presidência “violou a lei de forma leviana” e reiterou que “está fora de questão” um terceiro mandato de João Lourenço, sublinhando que “devemos permanecer atentos”.

A UNITA continua (legitimamente, é claro) a delirar e a julgar, tal como o MPLA, que somos todos matumbos. João Lourenço só não fará um terceiro mandato se não quiser. E querendo (seja pela compra de deputados da UNITA e companhia ou pelo uso da razão da força), veremos depois a UNITA a dizer que vai compilar um dossier e enviá-lo às entidades nacionais e internacionais…

Auxiliar linguístico. «Unitário: que defende a unidade política de um país».

Folha 8 com Lusa

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